Euro digital: projeto análogo ao Drex é foco de disputa na UE

O Banco Central Europeu (BCE) e a Comissão Europeia estão travando uma disputa pública a respeito da regulamentação MiCA e das stablecoins, tendo o projeto do euro digital como pano de fundo.

Afinal, o BCE acredita que as restrições atuais sobre stablecoins não são severas o suficiente, expondo o receio de que empresas americanas dominem o mercado europeu.

Por outro lado, a Comissão Europeia alega que essas críticas seriam apenas uma forma de promover o projeto do euro digital, do qual as principais stablecoins seriam rivais em potencial.

O euro digital é uma moeda digital do banco central (CBDC, na sigla em inglês), assim como o Drex no Brasil. Mas há resistência a ambas as propostas.

Isso ocorre em um cenário no qual a Europa tem dificuldades para se insistir na área de Web3. Portanto, ainda há dúvidas sobre o equilíbrio ideal entre abertura para a inovação e promoção de meios de pagamento locais.

Stablecoins de dólar são vistas como ameaça pelo BCE

A MiCA é a regulamentação para criptomoedas no contexto da União Europeia. Ela entrou em vigor há somente quatro meses. No entanto, o BCE já está reconsiderando as regras devido ao fator Trump.

Afinal, o presidente dos EUA vem promovendo uma política de promoção da indústria cripto.

Isso inclui a ideia de que o país deve dominar mundialmente o setor por razões estratégicas. Portanto, ideias como a de uma reserva estratégica de Bitcoin e a regulamentação das stablecoins ganharam força no país.

No outro lado do Atlântico, esses temas não encontram tanta receptividade.

Por isso, segundo uma matéria recente do Politico , o BCE estaria preocupado com a competitividade das stablecoins com lastro no dólar americano. Afinal, na sua visão, esses tokens poderiam dominar o mercado europeu.

MiCA não seria severa o suficiente

Desde que a UE passou a regulamentar as stablecoins, houve fortes impactos sobre o mercado da região. Por exemplo, depois da entrada em vigor da MiCA, o Tether deixou a Europa por completo.

Além disso, a Ethena Labs, que também emite stablecoins de dólar, retirou-se da Europa após não conseguir a aprovação da MiCA.

Por outro lado, nenhuma dessas empresas teve problemas semelhantes nos EUA.

Apesar disso, a preocupação do BCE não é que a MiCA seja muito severa. Em vez disso, como explica o Politico, o banco central europeu teme que a regulamentação atual não seja forte o suficiente.

Afinal, há o receio de que as stablecoins com lastro em dólar inundem o mercado europeu graças a uma política mais agressiva de Trump, que defende a supremacia do dólar.

Euro digital em pauta

A Comissão Europeia não reagiu bem às alterações propostas pelo BCE à MiCA, alertando que ela é muito permissiva em relação ao modelo de ‘multiemissão’. No modelo atual, emissores de stablecoins na Europa podem formar pools de recursos com emissores em outros países.

Em teoria, a MiCA reduz o risco de stablecoins lastreadas em moeda estrangeira perturbarem a economia europeia. Afinal, ela limita quem pode emiti-las e qual o valor máximo permitido. Ao mesmo tempo, permite que cidadãos da UE as utilizem.

No entanto, o banco Standard and Chartered prevê que a oferta de tokens com lastro em dólar atingirá US$ 2 trilhões até 2028, mais de 8 vezes o valor atual. Portanto, persiste o temor no BCE de que haja uma inundação dessas stablecoins na Europa em breve.

Apesar disso, a Comissão Europeia afirmou que o BCE vem exagerando a ameaça das stablecoins para reforçar o apoio político ao euro digital. Afinal, o projeto ainda precisa de uma visibilidade maior e de mais espaço nos debates da UE para sair do papel. Também pode enfrentar problemas políticos, como ocorre com o Drex.

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